domingo, 31 de maio de 2009

Escondendo-si

Escrevo esquetes, poesias, roteiros, artigos... Gosto de escrever e tenho essa prática desde pequena. Cheguei a concorrer em festivais de poesia. Minha primeira apresentação foi quando estava no colégio com cerca de 9 anos.

Hoje irei postar uma poesia que fiz para uma pessoa que gostava muito de me criticar ao invéns de tomar conta de sua própria vida.

O "si" não está escrito errado. Licença poética!

Este poema foi escrito no dia 26 de outubro de 2002.

Título: Escondendo-si

Não é assim que se pensa
Não é assim que se vive
Derramando lágrimas sobre restos
Esquecer sonhos
Esconder erros
Ter medo de encarar seus olhos
Em frente ao espelho
Não se joga fora uma vida
Como se apaga um cigarro
Não se esconde dentro de si
Como se o presente fosse passado
Nos olhos as lágrimas nunca são as últimas
Dos erros um homem não está safo
Dos sonhos nasce uma criança
Chamada esperança
Palavras não dizem nada
Olhares não sabem ouvir
Não são as mãos que tocam
As verdades dentro de ti
Não há razão para criar cinzas de si
Quando se ama
Ninguém tem razão
Você perde a razão
Para ser si cheio de si

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Sociedade do Espetáculo

A sociedade do espetáculo dita as normas de comportamento. Coloca a aparência como essencial, transforma as pessoas em mercadorias e usa a publicidade como meio de persuasão.

Por trás disto, está o capitalismo e a necessidade constante de gerar capital. A mídia se alimenta do lucro gerado pela publicidade e propaganda e, para que estas tenham grande êxito, é preciso que a sociedade esteja alienada.

A realidade se torna distante de modo que facilmente se mistura à ficção. A mídia vende um mundo irreal. A mentira vira verdade absoluta.

Aliada a tudo isso, está à publicidade, maior encarregada de propagar a ilusão. Ela vende um mundo mais agradável do que o real, se aproveitando da necessidade do homem moderno de consumir para se sentir pertencente à sociedade. O ser não tem importância. Prepondera o ter.

O espetáculo doa sentido ao indivíduo. A propaganda preenche o vazio e o sonho do homem. Mesmo que ele não possa consumir um dado produto, ao menos pode consumir o sonho possuí-lo um dia. O espetáculo e a publicidade se apresentam como o mundo perfeito, tal qual como gostaríamos que ele fosse.

O consumismo se apresenta como oportunidade de fugir do comportamento padronizado exigido pela sociedade. Ele é a busca pela felicidade e pelo prazer imediato. Com a volatilidade das coisas, o ideal de consumo é a novidade, mas na sociedade do espetáculo as necessidades nunca serão satisfeitas.

Somos bombardeados por uma série de imagens que são reflexos da vida real, tornando o homem mais passivo e facilitando a instauração do espetáculo. O homem troca à realidade pelo consumo de fatos e estórias.

Celebridades de mentes vazias contribuem em vender um mundo irreal e empobrecem a mídia. A falsa felicidade esbanjada por elas é cobiçada por aqueles tão vazios quanto. Quem se preocupa com fama e dinheiro, com parecer e aparecer tem lugar garantido. Falta espaço para arte e inteligência.

Somente quem topa qualquer tipo de jogo sujo e concorda com a propagação de mentiras conseguem trabalho. A mídia quer escândalos e deixa de lado suas principais funções. Os meios de comunicação deveriam ser usados para levar informação ao público de maneira clara e objetiva. Cultura, arte e entretenimento também deveriam ser transmitidos.

A arte e a comunicação estão comprometidas. Seja no teatro, na música ou na televisão o vazio de conteúdo é visível. A juventude não demonstra interesse por assuntos relacionados à política e ao social, se mostrando cada vez mais alienada. A mídia explora misérias humanas em busca de ibope. Reflexo do capitalismo.

Esta crise é mantida e agravada por aqueles que desejam fama e dinheiro, desvalorizando as profissões ligadas à arte e informação. Atores se submetem a cachês e trabalhos ridículos, contribuindo com a queda da qualidade dos trabalhos e a desvalorização da profissão de ator. Produtores, na busca pela audiência, querem apenas aquilo que serve plasticamente, também contribuindo com a queda de qualidade em prol do Ibope.

A cultura nasce produto seguindo um modelo de como agradar ao público. A realidade é criada de acordo com as ideologias de mercado.

Somente aquilo que possui qualidade e conteúdo, fica na lembrança histórica. Não encontramos hoje obras que retratam nosso período.

O teatro, como qualquer outro tipo de arte, deveria refletir política, social ou culturalmente um povo. É preciso buscar algo menos vazio, diferente de tudo o que vemos atualmente. A maioria das peças traz assuntos irrelevantes como tema central. Não gera reflexão, não retrata costumes e hábitos da sociedade e/ou não aborda problemas referentes à vida política ou social.

O mesmo se encaixa para outros tipos de arte, como a música. Letras com baixa entropia ocupam o ranking das paradas de sucesso. Os jovens não possuem conhecimentos artístico e informacional para melhor selecionar os produtos que consomem.

Para melhorar o cenário cultural do Brasil, é necessário fortalecer a educação e incentivar a cultura. É preciso deixar de lado a apatia e sempre observar e interpretar o que nos circunda. É importante buscar o que está por trás dos fatos para que não sejamos levados pelos outros e para despertar nossa visão própria a respeito das coisas. Também em relação à arte é essencial desenvolver o senso crítico e buscar qualidade, pois através dela também é possível absorver conhecimento e informação.

O espetáculo é o discurso ininterrupto que a ordem atual faz a respeito de si mesma, seu monólogo laudatório. É o auto-retrato do poder na época de sua gestão totalitária das condições de existência. A aparência fetichista de pura objetividade nas relações espetaculares esconde o seu caráter de relação entre os homens e entre classes: parece que uma segunda natureza domina, com leis fatais, o meio em que vivemos. Mas o espetáculo não é o produto necessário do desenvolvimento técnico, visto como desenvolvimento natural. Ao contrário, a sociedade do espetáculo é a forma que escolhe seu próprio conteúdo técnico. Se o espetáculo, tomado sob aspecto restrito dos “meios de comunicação de massa”, que são sua manifestação superficial mais esmagadora, dá a impressão de invadir a sociedade como simples instrumentação, tal instrumentação nada tem de neutra: ela convém ao automovimento total da sociedade. Se as necessidades sociais da época na qual se desenvolvem essas técnicas só podem encontrar satisfação com sua mediação, se a administração dessa sociedade e qualquer contato entre os homens só se podem exercer por intermédio dessa força de comunicação instantânea, é porque essa “comunicação” é essencialmente unilateral: sua concentração equivale a acumular nas mãos da administração do sistema os meios que lhe permitem prosseguir nessa precisa administração. A cisão generalizada do espetáculo é inseparável do Estado moderno, isto é, da forma geral da cisão na sociedade, produto da divisão do trabalho social e órgão da dominação de classe. (DEBORD: 1997, p. 20).

Guy Debord é um pensador francês que nasceu em Paris no dia 28 de dezembro de 1931 e morreu no dia 30 de novembro de 1994. Seu trabalho mais importante é A Sociedade do Espetáculo a qual será usada como base neste post.


Fonte:

DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998.

sábado, 23 de maio de 2009

Dois Perdidos Numa Noite Suja.

No dia 22 de maio, o Sesc de Nova Friburgo trouxe a peça Dois Perdidos Numa Noite Suja. André Gonçalves e Freddy Ribeiro interpretam Paco e Tonho, respectivamente, sob a direção de Silvio Guindane. Peça escrita em 1966 e é uma das mais importantes do autor brasileiro Plínio Marcos.

A montagem foi bem conduzida pelos atores e diretor. André Gonçalves tem ótima interpretação vocal e corporal que contribui para tom dado personagem e suas nuances. O cenário e o figurino atendem bem as necessidades do texto.

Encenado em vários países como França, Alemanha, Inglaterra e Cuba, também foi adaptado duas vezes para o cinema. A peça conta a história de dois operários falidos de um Mercado de Peixe do cais do porto. Semi-marginalizados, ambos dividem um quarto de quinta categoria, cheio de pulgas onde se desenrola toda a trama.
Paco é um personagem tomado pelo sentimento da provocação que gosta de tocar (mal) sua gaita para implicar com Tonho. Este, por sua vez, tenta enxergar uma possibilidade de melhorar de vida e se livrar do colega de quarto. Para isso, precisa apenas de sapatos novos para ir em busca de realizar seus desejos. Paco aparece com bons andantes e Tonho propõe que o colega o empreste. Em troca promete que, assim que ganhasse dinheiro, lhe daria uma flauta nova. Assim, ele poderia realizar seu sonho de ganhar a vida como artista.

Plínio Marcos era filho de um bancário e de uma dona-de-casa. Tinha 4 irmãos e uma irmã. Foi funileiro, quis ser jogador de futebol e serviu na Aeronáutica. Seu pai, que era espírita, também o colocou para vender livros numa banca de livros espíritas numa praça de Santos. Entre suas múltiplas atividades, inclui-se, ainda, a de estivador no cais do porto desta mesma cidade. Chegou a jogar na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Plínio queria namorar uma moça do circo de quem o pai só permitia que ela se relacionasse com pessoas do prórpio meio em que trabalhavam. Para isso, o menino ingressou como palhaço e trabalhou por vários trupes diferentes. Atuou em rádio e também na televisão, em Santos.

“A gente veio de origem mais ou menos humilde, mas minha infância foi muito feliz, pelo menos foi muito despreocupada. Morava numa vila de pequenos bancários – na Rua das Antigas Laranjeiras - e foi nessa vila que me criei. A única dificuldade que eu tinha era exatamente o colégio. Eu não suportava a escola. [Grupo Escolar Dona Lourdes Ortiz] Levei quase dez anos para sair do primário. E quando saí já não dava mais para continuar estudando. Meu pai tentou me enfiar em todas as profissões possíveis. Ele dizia que, se eu tivesse uma profissão, sempre iria sobreviver. Então, me botou de aprendiz de encanador. Eu acabei ficando funileiro. A minha profissão mesmo é funileiro - é o que consta no meu certificado de reservista. Para ser franco, eu, quando pequeno, era tido como débil mental. Não conseguia aprender. Meu poder de concentração era nenhum.”

Em 1958, por infuência da escritora e jornalista Pagu (Patrícia Galvão), começou a se envolver com teatro amador em sua cidade natal. Ela e o marido, o jornalista Geraldo Ferraz, abriram os horizontes intelectuais do jovem ator, apresentando-lhe textos da dramaturgia moderna. Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreveu sua primeira peça teatral, Barrela. Por sua linguagem crua, ela permaneceria proibida durante 21 anos após a primeira apresentação.

“Houve um caso, em Santos, que me chocou profundamente: um garoto foi preso por uma besteira e, na cadeia, foi currado. Quando saiu, dois dias depois, matou quatro dos caras que estavam com ele na cela. Fiquei tão chocado com esse negócio todo que escrevi a Barrela. Juro por essa luz que me ilumina que até então nunca havia me ocorrido escrever uma peça, pois eu não conhecia as grandes peças da dramaturgia nacional, nem universal. Conhecia as peças que eram apresentadas no Pavilhão Liberdade: Paixão de Cristo, O Mundo não me Quis, Rancho Fundo, O Ébrio. Mas, o caso do garoto me comoveu tanto, que eu, depois de andar uns tempos atormentado com a história, a despejei no papel.”

Com 25 anos, foi para São Paulo, onde inicialmente trabalhou como camelô.

"Vim pra São Paulo de vez em 1960. Aqui, a primeira viração foi vender coisas de contrabando. Eu ia buscar em Santos e vendia aqui: cigarros americanos, rádio de pilha, esses troços. Fiquei um tempão trabalhando de camelô".

Trabalhou em teatro como ator, administrador e faz-tudo, em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker e o teatro de Nydia Lícia. Também fez uma participação como ator no seriado Falcão Negro da TV Tupi. A partir de 1963, produziu textos para a TV de Vanguarda, programa desta mesma emissora, onde também atuou como técnico. No ano do golpe militar, fez o roteiro do espetáculo Nossa gente, nossa música.
Em 1965, conseguiu encenar Reportagem de um tempo mau, colagem de textos de vários autores, e que ficou apenas um dia em cartaz por ser a favor da democracia.
Plínio escreveu a peça Dois Perdidos numa Noite Suja para que ele mesmo pudesse representar, já que não era chamado por ninguém para trabalhar como ator.

“Ator pequeno, sem nome, sem carreira, sem nada, trabalhando de técnico na Televisão Tupi, ninguém convidava pra nada. Ninguém se lembrava que eu era também ator. Então escrevi uma peça com papel pra mim. Uma peça de dois personagens, inspirada num conto do Moravia, O Terror de Roma. Peguei o Ademir Rocha, que também estava desempregado, e chamei o Benjamin Cattan pra dirigir. E, como não tínhamos local, fomos estrear no Ponto de Encontro, um bar na Galeria Metrópole, que o Emílio Fontana conseguiu pra nós."

Nídia Lycia e Bucka ajudaram Plínio a montar a peça emprestando dinheiro. Na estréia havia apenas 5 pessoas na platéia.

“O pessoal da técnica da Tupi ajudou a gente a afanar refletores, os praticáveis, as camas e tudo aquilo de que precisávamos para o cenário. O transporte foi feito pelo pessoal da garagem. O Toninho Matos e o Paulinho Ubiratan operavam luz e som.”

Em 1968, participou como ator da telenovela Beto Rockfeller, vivendo o cômico motorista Vitório. O personagem seria repetido no cinema e também na telenovela de 1973 A volta de Beto Rockfeller, com menor sucesso. Ainda nos anos 70, Plínio Marcos voltaria a investir no teatro. Em forma de livro, publicou suas peças em Histórias das quebradas do mundaréu (1973), A rainha diaba (1974) – que posteriormente foi para o cinema, e o romance Querô, uma reportagem maldita (1976).

Na década de 1980, época da censura, Plínio Marcos viveu sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. Escreveu nos jornais Última Hora, Diário da Noite, Guaru News, Folha de S. Paulo e Folha da Tarde e também na revista Veja, além de colaborar com diversas publicações, como Opinião, O Pasquim, Versus, Placar e outras.

Depois do fim da censura, Plínio continuou a escrever romances e peças de teatro, tanto adulto como infantil. Tornou-se palestrante, chegando a fazer 150 palestras-shows por ano.

Plínio Marcos foi traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolingüística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia, em universidades do Brasil e do exterior. Recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator, diretor, escritor e dramaturgo.
Plínio Marcos nasceu em Santos no dia 29 de setembro de 1935 e morreu aos 64 anos em São Paulo, por falência múltipla dos órgãos em decorrência de um derrame.

Cronologia de sua obra:

Teatro adulto:
“Barrela” – 1958.
“Os fantoches” – 1960.
“Enquanto os navios atracam” – 1963.
“Chapéu sobre paralelepípedo para alguém chutar” – 1965.
“Reportagem de um tempo mau” – 1965.
“Dois perdidos numa noite suja” – 1966.
“Dia virá”, “Navalha na carne” e “Quando as máquinas param” – 1967.
“Homens de papel” e “Jornada de um imbecil até o entendimento” – 1968.
“O abajur lilás” e “Oração para um pé-de-chinelo” - 1969.
“Balbina de Iansã” – 1970.
“Feira livre” – 1976.
Teatro infantil:
“As aventuras do coelho Gabriel” – 1965.
“O coelho e a onça (história dos bichos brasileiros)” – 1988.
“Assembléia dos ratos” - 1989.
Opereta:“Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores” – 1977.
“Jesus-homem” – 1978.
“Sob o signo da discoteque” e “Querô, uma reportagem maldita” – 1979.
“Madame Blavatsky” - 1985.
“Balada de um palhaço” – 1986.
“A mancha roxa” – 1988.
“A dança final” – 1993.
“O assassinato do anão do caralho grande” – 1995.
“O homem do caminho” – 1996.
“O bote da loba” – 1997.
“Chico viola” (obra inacabada) – 1997.
Textos curtos:
“Verde que te quero verde” – 1968.
“Ai, que saudade da saúva” –1994.
“Índio não quer apito ou nhe-nhe-nhem” –1995.
“Leitura capilar” e “A alma do Tietê” – 1997.

Fonte:

PAGLIA, Mirian. “Histórias das quebradas do mundaréu”; Editora de Cultura Ltda.; São Paulo, 2004.
http://www.pliniomarcos.com/index2.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio_Marcos

 
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