segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O CAOS EM NOVA FRIBURGO 47 DIAS APÓS A TRAGÉDIA

A tragédia em Nova Friburgo não trouxe deslizamentos apenas em áreas de risco. A mídia mostra uma pequena parcela do que aconteceu e quem não esteve no local durante este período não consegue dimensionar o ocorrido. Praticamente toda a cidade foi atingida, não somente áreas consideradas de risco como as encostas. Foram afetados desde ocupações irregulares à locais considerados seguros e habitados por pessoas de alta renda.

Em alguns bairros altos onde nem ao menos houve inundação, há postes caídos tamanha a intensidade das chuvas. Em qualquer parte é possível enxergar 2, 3, 4 avalanches que desceram das montanhas no entorno e que, segundo o IBAMA e demais órgãos responsáveis, voltarão a descer. São deslizamentos de terra e vegetação ou mesmo de pedra pura.

Os bueiros de Nova Friburgo estão com lixo e as ruas cheias de lama da enchente. Em dias de sol esta resulta em uma poeira fina obrigando a população a circular de máscara. Em dias chuvosos tem-se lama.

Muitos países enviaram ajuda financeira à cidade. Porém, para fazer a limpeza convoca-se um mutirão, enquanto que com a quantidade exorbitante de dinheiro que a cidade recebeu grande parte deste e de outros problemas já poderia ser sido resolvida. Essa tragédia será usada para desvio de verba e exploração da população.

Há lugares mais afastados como Conquista aonde não chegou nenhuma prestação de auxílio à população desde o dia da tragédia. Os mortos foram retirados pelos próprios moradores e tantos outros continuam e continuarão por lá.

Hoje voltou a chover forte e os bombeiros avisaram que a cidade está em estado de alerta por dois dias. O rio está cheio como há um dia antes da tragédia. Friburgo encontra-se novamente (arrisco a dizer que continua desde janeiro desta forma) no caos. Algumas partes do centro (não sei sobre demais localidades) encheram de água ameaçando entrar no comércio. As mercadorias que restaram foram transferidas para o alto. Minha pergunta é: o que o governo tem feito para ajudar os empresários? Sobe o número de desempregados desde a tragédia...

O trânsito está horrível, as ruas cheias de lama, barreiras caíram nos mesmos lugares atingidos no dia 12... As pessoas estão abandonando suas casas ao menor sinal de perigo, mas é difícil um lugar seguro para se "refugiar". Ir ao trabalho e voltar dele tornou-se uma aventura ruim.
Na curva do ferro velho, próximo a Duas Pedras caiu uma nova barreira (em janeiro esta ultrapassou as duas pistas da rodovia atingindo o rio e chegando a cerca de 5 metros de altura!). Para ir a bairros como Ouro Preto, Prado, Conselheiro Paulino (Distrito) ou pegar a estrada para Bom Jardim é preciso passar por um caminho alternativo, no entanto...

A Avenida dos Ferroviários encontra-se praticamente do mesmo jeito que estava desde o dia da tragédia. Passar pelo outro lado, "por cima da rodovia", digamos assim (perdoem-me, não sei o nome desta rua), está perigosíssimo, pois metade da pista caiu e só há espaço para um carro.
As barreiras que atingiram o centro da cidade e derrubaram prédios fazendo vítimas, entre eles bombeiros, voltaram a cair... E onde está o dinheiro e o trabalho para garantir a segurança da população?

O número de mortos é muito maior que o divulgado. Há muitos bairros esquecidos. Estive na cidade e peguei a estrada para Teresópolis e é espantoso ver a destruição. Fábricas, hospitais, rio fora de curso procurando caminho por cima da rodovia e uma enorme região assolada por avalanches de forma que não há como imaginar o que foi soterrado. Não há como retirar o que desceu dali. E a região atingida é enorme.

A Vila Amélia tem seu córrego fora do percurso e necessita de obras nas ruas. A Fundação Getúlio Vargas, um dos pontos turísticos da cidade, teve desabamentos de casas, grandes deslizamentos de terra e de pedras que atingiram o condomínio Parcville obrigando moradores a abandonarem o local.

Muitas pessoas deixaram a cidade e outras tantas afirmam que, se nada for feito, abandonarão Friburgo. Vejo voluntários que criticam este tipo de atitude, mas é possível continuar vivendo em um lugar onde o risco de vida é alto e o trabalho das autoridades tão pequeno?
A cidade está fora da mídia. Depois de tudo o que aconteceu, esqueceu-se dela. O que está em pauta é o carnaval. Agora é época de comemorar (não sei o que). O Brasileiro é mesmo um povo feliz (não sei com o que). E satisfeito. Só mesmo um povo de memória fraca para se contentar com tão pouco ou quase nada.

O papel do jornalista neste momento não é levar informação e cobrar das autoridades. É mostrar o samba, a cerveja, o bar da esquina repleto de foliões cheios de coisas úteis a nos oferecer. Cheio de uma alegria nada vazia.

Só gostaria de saber porque os jornalistas que estiveram na minha cidade rapidamente se retiraram de certos locais e desistiram de entrevistar aqueles que disseram que responderiam as perguntas, mas somente se pudessem falar tudo o que sabem...

Tenho muitas dúvidas, mas tenho a certeza de que meus colegas de profissão fazem seu trabalho empenhados, afinal o jornalismo no nosso país nunca foi tendencioso. Mais que isso, meus colegas não são coniventes com atos corruptos. Também tenho a certeza de que nossos representantes políticos são pessoas dignas e comprometidas com as causas da população.

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